Depois dos 21

Faz dois anos que eu abro minhas agendas e esboço um "after" do texto "Antes dos 21". Ainda lembro me lembro do dia que escrevi aquele texto e como achei a ideia genial - igual a essa de fazer um texto comparativo anos depois. Eu estava dormindo na casa de uma (ex) amiga ( se é para ter ex, vamos ter direito), enquanto todos dormiam, eu digitava nas notas do meu primeiro celular que tinha comprado com minha bolsa do meu primeiro estágio remunerado.
Eu reli o texto depois e alguns anos ( não vou dizer os exatos pois estou  na crise de idade dos vinte e poucos) e ri muito. Como eu tinha certeza que depois dos 21 a minha vida não mudaria mais nada.
Depois dos 21 eu saí do Maranhão pela primeira vez, pela segunda vez, terceira... não quero outra vida a não ser viajar. Só ganhar mais dinheiro para poder viajar ainda mais.
Depois dos 21 consegui ressignificar toda a minha vida e tudo que vive: me perdoei e perdoei pessoas que jamais imaginei que iriam me magoar, minhas feridas cicatrizaram e ajudei outros a se curar. Revivi dolorosamente todas as minhas experiências traumáticas para que pudesse, por fim, me livrar de alguns fantasmas do passado. Já os que não consegui, aprendi a dançar com eles.
Todos aqueles três grandes amores que vivi antes dos 21 se juntaram em uma só pessoa: eu tenho um melhor amigo, que mesmo não tendo um passado juntos, construiu lembranças boas e saudosas, como de um amor adolescente, que aguenta todos os sapos que a convivência e os meus defeitos o fazem engolir e é intenso. Sim, do contrário de antes, eu quero estar ainda mais amarrada, não me imagino mais voando sozinha. Esse amor me mostrou que não existe essa de número certo e que sapato pequeno, apesar de bonito, uma hora vai se tornar insuportável de usar. Eu tenho os três amores em uma só pessoa ( e peço a Deus que pare por aqui, risos).
Hoje eu não moro mais na minha ilha querida: foram 6 anos de amor ambivalente. Sinto falta até do trânsito e da correria estressante de lá, parafraseando Gonçalves Dias : "não permita oh Deus que eu morra sem que eu volte para lá."
Conto hoje com poucos e fiéis amigos. Não precisamos nos falar todos os dias para provar cumplicidade e fidelidade. Muitas pessoas saíram da minha vida mas as essenciais permaneceram.
Não só de quebra de amizade/relacionamento vive depois dos 21 anos mas também de reconciliações,  principalmente familiar. Eu tinha ressentimentos que não admitia e foi preciso eu sofrer muito para aprender pedir perdão.
 O ato de pedir perdão sempre me acompanha. Não pense você, caro leitor que perdoar para mim é algo fácil: eu, às vezes, sou um poço de orgulho e não me orgulho disso. Mas quando eu me permito passar pelo processo, o final é LIBERTADOR.
Depois dos meus 21 me formei em psicologia, trabalho na minha cidade natal com violação de direitos. Tenho algumas especialidades e demorei um pouco para ver meu potencial como psicóloga. Hoje eu sou a melhor psicóloga do (meu)  universo. Nem que seja o paralelo ( RISOS).
Minha família é tudo para mim. Inclusive aumentou. Eu morro de amores e orgulho de cada membro dela.
Depois dos 21 fui pedida em casamento em um show de stand-up comedy, tivemos nossos 15 minutos de fama nas redes sociais com direito a meu noivo ser reconhecido no ônibus e até este blog que vos fala foi notado ( achei super chique ).
Depois dos 21 aconteceu muitas coisas. O que eu imaginava não chegou nem perto do que realmente aconteceu. E está quase tudo aqui: em formas de devaneios, de textos soltos... Esse blog continua sendo terapêutico para mim, assim como escrever nas minhas agendas.
Eu olho para trás e tenho orgulho do caminho que trilhei  e da mulher que estou me tornando: não olho mais tanto para as feridas, sigo admirando minhas cicatrizes. Ainda reclamo do cansaço mas aprecio o processo. Todos os dias penso em desistir mas Deus me diz sempre que não me deixará, nem me desamparará ( Hebreus 13:5b).
Eu vivi. E depois dos 21 eu entrei na academia mais uma vez. Passei dois meses. Desculpa gente, eu descobri que sou de PILATES. Não quero mais ser panicat, só quero ter vida saudável e cancelar todas as alergias.
Tentei aprender a tocar violão pela terceira vez, inclusive comprei um violão. Também estou tentando aprender Ukulele. Ambos sozinhas. Uma hora pelo menos uma música, sai.
Esqueci essa ideia de tentar compor músicas, meu negócio é escrever uns textos mais ou menos que uma hora outra fará sentido para outra pessoa além de mim e cantar. Mas só canto no chuveiro porque eu sou bem tímida. 
Deixei de lado patins, skates e patinetes.
Andei pilotando uma moto de 150 cilindradas sozinha por conta da necessidade e foi massa!
Nunca tirei minha carteira de habilitação. Tanto ameacei bater o carro do meu irmão no portão que acabei batendo o carro da minha futura sogra e levando um prejuízo de R$400,00. Hoje tenho pesadelos dirigindo carro e percebi que estou traumatizada. Mas a habilitação vai sair.
Tenho duas tatuagens e um piercing e pretendo fazer mais. 
Depois dos 21 virei empreendedora, empresária, vendedora e entregadora da minha loja virtual.
Meu primeiro salário depois dos 21 eu gastei só com roupas mas depois me tornei uma consumidora consciente. Minha mãe diz que eu só estou segura com dinheiro mesmo.
Depois dos 21 estou passando por uma pandemia e todos os dias tenho a convicção de que a última alegria do brasileiro foi o penta.
Adquiri muita maturidade mas não o suficiente. Tenho muitas coisas para viver depois dos 21 e daqui a alguns anos farei outro texto , tendo coisas bonitas pra contar.
Até lá vou me permitir viver cada dia e devanear sobre tudo, afinal, é assim que esse blog ganha conteúdo.
Ah, e feliz aniversário para mim!
 
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