Ele mora logo ali




Ele mora logo ali, do outro lado da cidade separada por uma ponte. E a ponte que nos separava é a mesma que nos uni. E foi na travessia daquela ponte que a vida dele cruzou com a minha.
E o vento e o clima trouxe a lembrança de que os muros que nos separava foram derrubados.
Ele mora logo ali, do outro lado do estado. Separado por quilômetros, por uma estrada. A estrada que afasta é a mesma que aproxima. Curioso como uma mesma pode ter via dupla. É o vento no rosto, enquanto eu pego a estrada, traz a memória e o cheiro que a cada quilômetro fica mais perto.
Ele mora logo ali, em outro estado. A saudade é quem me lembra de como tenho saudade de quando ele morava logo ali.
Mas ele ainda mora aqui, dentro do meu peito, na minha memória. A lembrança que eu não lembro de esquecer.
Ele ainda mora aqui,uma parte sua ficou, enquanto uma minha, ele levou.
Eu ainda vou dizer, do lado de fora da nossa casa, enquanto eu estiver observando ele lavar o carro, ou arrumar qualquer coisa, quando perguntarem aonde ele mora, eu responderei : "Ele mora logo ali, naquela casa. Onde todos os dias eu o vejo acordar."
Ele mora logo ali e todas as vezes que vai embora, eu fico a esperar. Ele, que mora logo ali!
Às 06:00 h a.m.,de quatro anos atrás, uma dor, como que de uma faca atravessando todos os meus órgãos ( imagino eu ), senti. Pensei que meu coração tivesse parado junto com o dele. Bem que eu queria, mas tive que sentir todo aquele turbilhão de emoções. Sozinha.
Chorei. Gritei. Fugi. Revoltei. Falei o que não devia. Ri quando não pudia ( ou assim pensavam as pessoas que estavam naquela cena, naquele dia tenebroso, a 4 anos atrás). Sozinha. Assim eu pensava.
Hoje lembro daquele doloroso dia em fragmentos, que antes, pareciam verdadeiros flash de filme de terror, lembranças de uma situação que me deixou mais forte.
Eu não choro mais, apesar da falta que sinto dele. O único grito que eu dou é de saudade, mas em silêncio. A única fuga que eu tenho são das coisas que me fizeram sofrer naquela época, e que vez ou outra, voltam a me atormentar. A minha única revolta foi não ter dito que te amava depois daquele ultimo abraço. O que falo hoje, é sobre as coisas bonitas que tu me ensinaste e de como influenciou a nossa educação. E, eu posso sim, rir, de todas as lembranças  das brincadeiras e dos momentos bons que me proporcionou em vida.
Pai, hoje eu lembro e sorrio. Não é que a tua falta não doa em mim. Não é que a tristeza não vem quando, ao lembrar que na formatura, tu não vai estar nas fotos e nem entrará comigo na igreja quando eu for me casar. Mas eu aprendi a sufocar a dor. Não me conformei, nem me acomodei, apenas transformei a dor em arte e aprendi a reinventar a minha história. Não sozinha.
Porque, o Deus que tu me ensinaste a amar, me mostrou Quem cuida de mim e que eu pudia suportar cada uma das minhas cargas.
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