Precisamos falar sobre vida



A juventude é analogia perfeita para o que de fato é a vida, caso pudéssemos defini-la.  Essa mesma  vida que se fraciona em fases, estações...
Vida que tem inicio e em algum momento terá fim. E quem vive ( ou apenas existe, vegeta, e etc.) quase nunca para pra pensar na finitude de algo  tão liquido, que se nos agarrássemos, se fecharmos a mão, esvai. Não dá para repor, não dá para trazer de volta.
Ouvi dizer que muitas vezes, diante da morte, os verdadeiros milagres são os que ficam. Eu tenho que concordar que sobreviver com a falta é um comportamento milagroso.
Quando uma vida se vai, o que fica são as pessoas que dedicaram amor, companhia, experiências compartilhadas , lembranças marcadas em fotografias, sorriso que muitos irão levar por uma vida inteira, outros por algum tempo até que os detalhes vão se perdendo, cai no esquecimento.
No hoje, fica o remorso do ontem não ter dito "eu amo você", "eu te perdoo", ou "como minha vida é melhor por ter você". E começam a surgir os porquês: por que eu o (a) deixei ir? Por que eu não a abracei? Por que Deus o (a) levou ? Por que eu não ofereci flores em vida?
Diante de uma tragédia recente que teve uma vítima fatal, vi em uma rede social a seguinte postagem: " Cada vez que um jovem se vai, (independente da aproximação que temos com ele ) vai também uma luz inconsciente do nosso coração que sempre acredita na FORÇA DA JUVENTUDE." Eu concordo. Algo se foi também de mim. Seja por compaixão, empatia ou por me dar conta da linha tênue entre a morte e a vida. Algo se foi. mas também muita coisa fica.
E é o que fica que quem sobrevive, seja a um acidente, uma perda ou traumas, tem que administrar, tem que escolher o que fazer mas não neste ou naquele exato momento, mas quando o luto passar, a dor. Isso nunca passa. Já dizia algum físico ( sou de humanas, não sei quem disse, rs ) que na natureza, nada se perde, tudo se transforma, que possamos transformar a nossa dor, a nossa ferida, em cicatrizes que podem ser  futuramente bálsamo para as pessoas que sofrem como um dia a gente sofreu. Que possamos abraçar mais, perdoar mais, demonstrar nosso amor e gratidão em vida, afinal, se apertarmos muito a vida, ela foge... ela é liquida.

Carta póstuma à Augusto


Imagem da web

São Luís, 05 de junho de 2016
Olá pai, faz mais um ano que você foi embora. Já são seis anos que eu não te vejo. No começo eu não aceitei muito bem a ideia da sua partida, cheguei a questionar a Deus o porquê. Eu sei, toda errada. Não foi assim que me ensinaste, mas a ser grata a tudo, até aquilo que não é agradável.
Estou a duas semanas de terminar a faculdade, posso dizer que venci na vida ( esse é um jargão de uma menina daqui de São Luís que ficou famosa por nada, sei que iria odiar ouvir os snaps dela.). Foi difícil chegar até aqui, incontáveis foram as vezes que eu quis desistir. Deus não deixou. Mamãe também não. Fico triste por não poder dividir esse momento tão esperado com você, assim como a Nayra e o Thallysson ficaram. Mas você estava lá, no coração dos dois. Assim como vai estar em todos os momentos importantes da minha vida, no meu coração.
Vai ser difícil não entrar coom você na minha formatura, no meu casamento, não ver os meus filhos te chamarem de vovô. Ah, como eu queria tudo isso!
Sabe, a gente tem se virado bem. A gente cresceu bastante. Dona Tânia mostrou sua real força, que apesar da carinha de boba, ela é uma guerreira. O Thallysson, bom, ele é o melhor irmão do universo. Desde aquele dia terrível, nunca deixou de cuidar de mim. Um homem feito. Não só da idade, mas de atitudes.
Eu passei por muitas decepções. Por que quando conversávamos na porta de casa vendo estrelas, o senhor não me falou que era difícil ser adulto? Será que deixou com a vida a tarefa de me ensinar essa difícil lição. Talvez, suas conversas sobre a infância era a deixa pra alertar que eu devia continuar sendo criança. E tem sido assim que eu vou vivendo até o momento: tentando ser criança no amar e perdoar.
Falando nas estrelas, por um bom tempo foi dolorido olhar pra elas. Hoje eu olho pra elas junto com o Jackson, ele sempre fala que queria ter te conhecido e ter sua aprovação. Ele é folgado, mas tenho certeza que iria gostar dele.
Sua partida deixou um buraco enorme. Não fica triste! Deus já preencheu. E eu sei que escrever tudo isso pra alguém que nunca vai ler parece bobo, tosco... que eu seja. Só queria ter a sensação de conversar com você. Sem um céu estrelado, mas um papel todo rabiscado com um ar de curiosidade, de uma pergunta que nunca será respondida, de uma valsa perdida. Eu sei, que se estivesse aqui, se orgulharia de mim.

A menina que habitava em mim

Imagem da internet

Acho que estou em meio a crise de identidade, aquela típica crise que acomete os jovens adultos, que tentam se desprender das irresponsabilidades comuns e superficiais para assumir grandes responsabilidades que  a vida traz.
Dói crescer. E é quando começa a latejar que costumamos buscar na caixa da lembrança a criança que um dia fomos, a inocência que um dia habitou em nós.
Ah, se aquela menina que habitava em mim - que sonhava em ser adulta o quanto antes - descobrisse que crescer era uma tortura necessária, teria preferido viajar para a Terra do Nunca e se tornar uma versão feminina do Peter Pan. Teria preferido estudar no quadro negro quebrado no fundo do quintal da sua casa, onde o problema de difícil solução  era 2x10.
Não imaginava e teve que crescer bem antes do que previa em seus devaneios infantis. Viu que ser adulto, por diversas coisas, às vezes é um saco, e que mais difícil que 2x10, são os inúmeros trabalhos da faculdade assombrados pela bruxa da ABNT.
A menina que habitava em mim sonhava com um casamento digno de uma super produção da Disney, com um homem que ela não conseguia imaginar o rosto, mas que tinha certeza  que todo amor que havia guardado em seu coração um dia, seria dele. Ao invés disso, a menina cresceu e entregou seu amor pra "qualquer uns" que levaram aos poucos cada pedaço do seu sonho, pedaços de quem ela era, até ficar apenas os escombros.
Se ela soubesse que aquela briga com sua melhor amiga na infância por causa de um chocolate não foi a pior de todas  que viriam, teria comprado mais chocolate para desbancar os conflitos intensos de hoje, onde todos estão certos e ninguém dar o braço a torcer. Sim, o fim dos conflitos seriam tratados de paz com um doce compartilhado que em silencio diria :"eu te perdoo".
Eu me pergunto se a menina que habitava em mim se orgulharia da mulher inquilina. Será que ela não iria fazer caretas pra essa mulher tão ranzinza? Será que reconheceria nesta mulher o seu sorriso e seus sonhos de infância? Será que ela teria vergonha das minhas vergonhas, ou até mesmo daquilo que estufado no meu peito, me orgulho ?
Essa criança ainda vive em mim, ou eu a mandei embora, a matei? Tudo que eu mais queria agora é aquela menina de volta.

Luzes na cidade


A sensação era a de que aquele cubículo a qualquer momento poderia me engolir, apertava meus livros contra o peito para que aquela sensação claustrofóbica desaparecesse. 12°, 13°...olhei para ele e sorri tentando disfarçar o meu medo ou talvez mostrar que era durona e corajosa. Ele me devolveu o sorriso como se tivesse entendido a mensagem subliminar que passara. Não sei mas aquele sorriso acalmou o meu coração.
14°,15°...enfim chegamos! A cena parecia de filme de terror. E mais o meu coração palpitou de medo e tive vertigem. Nunca estive em um lugar tão alto.
Mais umas escadas, portas de emergências macabras, uma janela que mal cabia o meu corpo - ou talvez eu fosse desajeitada o bastante para não caber - e lá estava a cena mais linda que vi até agora; o medo de altura e a vertigem se confundia com a paz e a gratidão de , após um dia corrido, admirar as luzes da cidade aos poucos se acederem, enquanto a penumbra se transformava em breu.
Fechei os olhos e agradeci. Muito. A Deus, por estar naquele terraço e por me aventurar na companhia que estava. Olhei pra ele e o abracei. Continuei a olhar para o horizonte de carros que mais pareciam vaga-lumes e não conseguia pensar em nada, a não ser o quão bom era ficar ali.
Eu lhe jurei amor mais uma vez com sussurros, dessa vez olhando para o céu  que começava a salientar as tímidas estrelas.
Senti o vento nos cabelos e no rosto, enquanto eu sentia todo amor dele por mim, com o gesto puro de segurar as minhas mãos.
Naquele momento desapareceu tudo para nós. Ficou Deus, ele, eu e os nossos planos de um futuro juntos, brilhando junto com as luzes da cidade que se acendia.

Quase Psicóloga





Primeiro dia de aula na faculdade e uma pergunta do jardim de infância ( aquelas do tipo: qual o seu nome e o que você quer ser quando crescer) marcaram o inicio da minha vida acadêmica:
 "Qual o seu nome e porque você está fazendo psicologia?"
 Lógico que eu respondi prontamente: "Meu nome é Thayllanna, estou fazendo psicologia porque fui aprovada pelo Prouni. "
O que não deixou de ser verdade, consegui uma bolsa parcial para cursar psicologia no segundo semestre do ano de 2011. Por que eu entrei? Pra não ter que voltar pro interior e ser infeliz fazendo enfermagem ou nutrição ( nada contra os enfermeiros e nutricionistas ), enquanto eu tentava arduamente passar pra Direito.
Depois que eu cheguei em casa naquele dia, continuei como questionamento ( imaginem um balão de pensamento e nele escrito o seguinte devaneio ): "O que eu estou fazendo naquela sala gelada com quase 80 alunos, uns estranhos demais, outros comuns demais? Sou mais uma lá."
Dia 27 desse mês se comemorou o Dia do Psicólogo, o dia do profissional que além de estudar mente e comportamento ama pessoas e tudo que as remete.Lembrei -me também que este é o último que comemoro sendo apenas estudante e fiz uma retrospectiva de tudo que já passei ao longo da graduação.
90% e pegando o lápis com a ajuda de uma calculadora ( sou de humanas, tá?), talvez eu tenha pensado em desistir do curso 10 vezes por período, umas pensando que o curso não era pra mim, outras, com saudades de casa e o colo da mamãe.
90% e o meu circulo de amizade era em torno de 10 meninas, hoje tenho uma roda de quatros psicompanheiras, psicoamigas que, entre si, já brigaram, se afastaram, sorriram, choraram e se ajudaram.
90% e eu já fiz mais "atendimentos" com amigos que um psicólogo abrindo sua própria clinica assim que se forma. Meus amigos e seus conflitos eram/são meu estágio. Não era raro um amigo chega até a mim e perguntar coisas do tipo "o que a psicologia acha sobre isso?", "estou precisando de uma consulta gratuita", "Lanna, você faz psicologia, tenho certeza que pode me ajudar", "Mas ele (a), ta errado (a)","o que eu faço amiga, tu é psicóloga, pode me ajudar". Mesmo que por muitas vezes usando um simples conselho de amiga ou de quem está de fora da situação, pude aprender muito nos meus "atendimentos gratuitos". Técnica que eu usava com meus queridos amigos/clientes/pacientes ? Abraço terapêutico, fisicamente e em seus conflitos. Ah, como eu abracei seus conflitos.
90% e descobri que ensino superior é diferente de ensino médio. Como verbaliza o senso comum é "cobra engolindo cobra" e a teoria de Darwin prevalece até nos momentos mais afetivos entre os colegas de classe.
90% e eu descobri que muita gente entra pro curso mas que não veste a camisa do mesmo. Há muitos egoístas, orgulhosos, prepotentes, juízos de valores disfarçados de altruísmo e que com o tempo, todas as mascaras caem. Mas existem também as pessoas que são psicologia do dedinho do pé até o ultimo fio de cabelo, que amam o que estudam e o que fazem, essas sim valem a pena chamá-las de futuros psicólogos.
90% e eu já tenho meu referencial teórico definido e a área de atuação também. Mas não vou dizer que o que tenho sentido tanto esses dias é ansiedade. Não vou mentir dizendo que não tenho medo do mundo para além do acadêmico, que é tão cômodo e apesar de tudo, tão sem responsabilidades. Não vou deixar na inconsciência o meu desespero de olhar pra trás e ver tudo que eu já estudei e chegar a conclusão que eu ainda não sei de nada. E quem é que sabe? E quem é que conclui ?
90% e ainda dar vontade de quebrar a cara de quem diz que eu vou morrer de fome, ou quem pergunta se psicologia dar dinheiro ( ouvi dizer que a única coisa que dar dinheiro é mãe, o resto você tem que correr atrás pra conquistar).
A Psicologia ( ou o Prouni ) me escolheu. Às vezes é bom ser escolhido. Você sendo uma escolha, imagina ser amado por quem o escolheu e aprende a amar este "quem" ( no meu caso, o "que").
Hoje eu tenho a resposta 90% certa da pergunta do jardim de infância feita a mim no primeiro período: Meu nome é Thayllanna, eu faço psicologia por causa do Prouni sim. Mas eu descobri que ela é o meu amor, eu amo gente, amo cuidar de gente. Eu amo psicologia.  

P.s.: Este texto não está formatado segundo a ABNT, não é científico e está cheio de juízo de valores
Ps.2.: A autora do texto no momentos está descabelada pensando em seu TCC, porém, ama muito tudo isso.
P.s.: Amei fazer "P.s's" 
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